Com relação a alguns outros assuntos que pretendo abordar futuramente neste blog, é necessário primeiro explicar para aqueles que não estão familiarizados com o cotidiano desse universo o motivo pelo qual a conhecida "Internet Fibra Óptica" se tornou tão popular.
Após percorrer áreas comerciais e de engenharia de redes de telecomunicações, especialmente na infraestrutura FTTx, e agora com o SaaS, fica evidente que o amadurecimento nos negócios faz as decisões técnicas serem influenciadas predominantemente por considerações financeiras para longo prazo. Quando se trata de analisar um produto ou solução, inevitavelmente a questão crucial que surge é "quanto custa?". Portanto, no final das contas, não se trata apenas de quais especificações técnicas o engenheiro está avaliando, mas sim das informações financeiras que ele tem em mãos e que verdadeiramente moldam a tomada de decisão. Nesse sentido, cabe uma reflexão: será que o seu engenheiro realmente compreende a estrutura de custos da sua operação? Genérico demais? Tentarei ilustrar isso com exemplos das soluções com as quais trabalhei e ainda trabalho.
Para entender as tomadas de decisões em redes FTTx (Fiber To The "x"), é necessário primeiro resumir o que é FTTx e as evoluções tecnológicas que presenciei enquanto estive, como costumo dizer, "na ponta da lança", nos departamentos comerciais e de engenharia de vendas de soluções voltadas para esse mercado.
Soluções FTTx são aquelas que fazem uso de fibra óptica, elementos "Passivos" que não requerem energia, para conectar as extremidades de equipamentos "Ativos", que necessitam de alimentação elétrica. Quando essa arquitetura é implementada, chamamos a rede externa de rede PON (Passive Optical Network). Em soluções FTTx, há várias arquiteturas de topologia externa para atender diversas necessidades. Gostaria de comentar a evolução tecnológica no segmento de Banda Larga Fixa, ou Broadband. No Brasil, a arquitetura amplamente adotada é a topologia de rede com splitters (passivos) distribuídos.
Atualmente, o que comumente conhecemos como "Internet Fibra Óptica" é o serviço oferecido por ISPs (Internet Service Providers), Provedores Regionais ou Operadoras, utilizando cabos de fibra óptica, caixas e splitters na rede externa. Em relação às extremidades que estão sendo conectadas e fornecendo a conexão com a internet, os equipamentos mais utilizados hoje são da tecnologia GPON, com OLTs na central do provedor e ONUs ou ONTs nas residências dos assinantes.
Em 2013, quando comecei a trabalhar com Fibra Óptica, o cenário da banda larga fixa no Brasil era notavelmente diferente do que é hoje. Naquele período, dos 20.1 milhões de acessos à banda larga, apenas 1.7% (341,000) eram realizados através da tecnologia FTTx, que consiste na utilização de fibra óptica até a casa ou apartamento do usuário.
Porém, ao avançarmos para 2024, isso mudou drasticamente. Enquanto escrevo este artigo, os dados públicos mais recentes indicam que o número total de acessos à banda larga fixa aumentou para 47.9 milhões, e surpreendentemente, 74.7% (35,781,300) desses acessos já são feitos por meio das tecnologias FTTx. Este aumento representativo no uso de FTTx reflete a crescente demanda por uma conectividade mais rápida e confiável, impulsionada pela evolução das tecnologias digitais e pelo aumento do uso da internet em diversas situações da vida cotidiana.
É possível estabelecer várias correlações para explicar esse crescimento. Aqui, listarei aqueles que considero de grande importância para esse fenômeno.
Em 2013, a vantagem tecnológica da fibra óptica sobre outras tecnologias, como cabo metálico, cabo coaxial e rádio, que ocupavam, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro lugares em quantidade de assinantes aqui no Brasil, foi sem dúvida um fator determinante. As vantagens tecnológicas da fibra óptica podem ser resumidas da seguinte forma:
- Permite altas taxas de transmissão de dados;
- Não sofre interferência eletromagnética;
- Não requer equipamentos ativos na rede externa;
- É muito mais leve e compacta do que cabos de cobre.
Entretanto, essas características por si só não foram os únicos fatores considerados pelos engenheiros das empresas de telecomunicações na decisão de adotar essa tecnologia. Ao nos aprofundarmos nas operações da maioria dos provedores de internet da época, observamos um cenário de alto custo operacional associado às outras tecnologias, que utilizavam meios de comunicação suscetíveis a:
- Descargas elétricas, que podiam danificar equipamentos "ativos" na rede externa, resultando em trocas frequentes de equipamentos e interrupções no serviço para muitos clientes;
- Condições climáticas que afetavam a qualidade do sinal transmitido via rádio;
- Popularização de aplicações web, mobile, streaming, entre outras revoluções, demandando maior largura de banda e causando experiências de usuário insatisfatórias devido às limitações das tecnologias de conectividade existentes;
- Alto custo operacional.
Com base nas lições aprendidas com outras tecnologias e na compreensão da necessidade de oferecer um melhor serviço de atendimento ao cliente final para reduzir o churn (cancelamentos em um período de tempo), os engenheiros e tomadores de decisão de diferentes operações e empresas, aos poucos, foram realizando análises comparativas dos custos de capital (CAPEX) e operacionais (OPEX) das tecnologias disponíveis.
Alguns podem lembrar-se dessa "disputa", enquanto os mais novos no campo das redes PON podem não ter conhecimento. Entre 2013 e aproximadamente 2016-2017, duas tecnologias de equipamentos ativos coexistiram no território nacional. Essas tecnologias referem-se aos equipamentos instalados tanto na central do provedor quanto na casa do assinante. Basicamente, tínhamos o GEPON (Gigabit Ethernet Passive Optical Network), também conhecido como EPON (Ethernet Passive Optical Network), e sua "concorrente" GPON (Gigabit Passive Optical Network). Na época, como fornecedor, era difícil explicar para os clientes via telefone qual das duas tecnologias estávamos mencionando devido à fonética dos acrônimos. Para facilitar, vou utilizar aqui os termos EPON e GPON.
- Utilização de Fibra Óptica: Ambos EPON (Ethernet Passive Optical Network) e GPON (Gigabit Passive Optical Network) utilizam a tecnologia de fibra óptica para transmitir dados da OLT (Optical Line Terminal) para a ONT (Optical Network Terminal) e vice-versa.
- Comprimentos de Onda: Tanto EPON quanto GPON utilizam o comprimento de onda de 1490nm para downstream (da OLT para a ONT) e 1310nm para upstream (da ONT para a OLT).
- Taxa Upstream: Ambos os padrões suportam uma taxa de upstream de 1.25 Gbit/s, que é a velocidade na qual os assinantes enviam dados para o provedor de serviços.
- Norma: EPON segue a norma IEEE 802.3ah, enquanto GPON segue a norma ITU-T G.984. Isso implica que eles são padronizados por diferentes organizações e podem ter algumas diferenças na implementação e interoperabilidade.
- Taxa Downstream: GPON oferece uma taxa de downstream de 2.5 Gbit/s, enquanto EPON fornece uma taxa de downstream de 1.25 Gbit/s. Isso significa que GPON tem o dobro da capacidade de EPON em termos de taxa de download.
- Capacidade Total: Devido à diferença na taxa de downstream, a capacidade total de GPON é de 2.5 Gbit/s, enquanto a capacidade total de EPON é de 1.25 Gbit/s. Isso influencia a quantidade de largura de banda disponível para os assinantes e a escalabilidade da rede.
- O protocolo GPON suporta uma razão de divisão na porta PON do equipamento para atender até 128 assinantes, ou ONT, enquanto o EPON 64.
A disputa natural entre as duas tecnologias teve alguns pontos relevantes para a tomada de decisão sobre qual tecnologia adotar. Na época, o custo dos equipamentos EPON era consideravelmente mais baixo do que o do GPON. No entanto, ao considerar que cada porta PON da OLT GPON poderia atender até 128 ONTs, o custo por assinante e por porta PON ficava muito equiparado. Isso acontecia em um período em que cada OLT GPON custava mais de R$ 60,000.00, com um número limitado de portas PON, e as ONTs custavam mais de R$ 400.00.
O GPON conseguiu conquistar o mercado nacional através de argumentos técnicos, destacando a capacidade de cada porta PON de atender até 128 ONTs e os 2.5Gbit/s de downstream por porta PON, o que era considerado mais eficiente e à prova de futuro. Ao longo do tempo, o GPON expandiu sua base, e como em muitos processos industriais, o aumento da demanda tende a reduzir o custo produtivo. Isso levou o GPON a custar tão pouco quanto o EPON.
Atualmente, ainda existem muitas bases EPON no mercado que estão operando sem problemas. No entanto, o próprio mercado acabou direcionando a maior base de acessos FTTx para a tecnologia GPON.
Os ISPs early adopters do FTTx começaram a decolar com a adesão de usuários em busca de um serviço de internet de maior qualidade. Esses usuários, ao experimentarem o serviço, promoviam sua qualidade por meio do boca a boca. Alguns afirmam que essa é a melhor forma de marketing, pois o ouvinte naturalmente transfere toda a credibilidade que tem no comunicador para o produto ou serviço sem barreiras.
Ao perceberem que estavam perdendo usuários para a concorrência que oferecia serviços utilizando fibra óptica, muitos ISPs optaram por aderir ao FTTx de forma inevitável. Nesse momento, a tomada de decisão não foi baseada em análise técnica abrangente, mas sim na necessidade do mercado. Era essencial proporcionar aos assinantes o acesso àquilo que seus clientes estavam pedindo: a nossa já conhecida "Internet Fibra Óptica".
Nos últimos 10 anos, durante o crescimento do acesso à banda larga e à tecnologia FTTx, testemunhamos claramente a aplicação da lei da oferta e demanda, uma teoria fundamental na economia que remonta a pensadores como Adam Smith. À medida que os provedores de serviços de internet (ISP) adotaram a tecnologia de acesso por fibra óptica, coexistindo com diferentes tecnologias, os preços médios (mensalidades) dos serviços de internet utilizando fibra óptica para conectividade se destacaram para os ISPs, resultando em mensalidades mais altas para clientes que desejavam uma experiência de internet superior. Para o usuário final, nunca foi uma questão de COMO o ISP entregava a conectividade, mas sempre sobre a experiência cotidiana que demandava conectividade com a internet.
Em algumas regiões do Brasil, alguns ISPs pioneiros puderam prosperar rapidamente enquanto a concorrência permanecia estática. No entanto, estamos lidando com um país com mais de 10.000 provedores de serviços de banda larga. Com a compreensão da competitividade e a necessidade de atender ao público que buscava "Internet Fibra Óptica", cada vez mais ISPs implementaram esse tipo de serviço. Com o passar do tempo, o diferencial tecnológico deixou de ser distintivo e observamos a teoria de Adam Smith sendo posta em prática, onde para alguns no setor de telecomunicações, a "Internet Fibra Óptica" se transformou em commodity.
De um lado, tínhamos os ISPs reduzindo seus preços para aumentar sua base de assinantes; do outro, os clientes tinham mais opções para o que para eles seria essencialmente o mesmo serviço de "Internet Fibra Óptica".
Para a construção de redes ópticas, utilizamos pontos de emenda ou conexões ópticas. Apesar da fibra óptica chegar até a casa ou apartamento do assinante, na maioria das vezes, ocorre uma divisão na rede externa da porta PON da OLT de 1 para "N" fibras. Para isso, são utilizados splitters ópticos de 1x2, 1x4, 1x8, 1x16 e 1x32, sendo a distribuição de residências ou apartamentos a determinante na colocação desses splitters na rede.
Em uma rede FTTx tradicional, existem algumas segmentações da infraestrutura:
- Rede primária: fibra da OLT (central do provedor) até o splitter de primeiro nível;
- Rede secundária: fibra do splitter de primeiro nível até o splitter de segundo nível;
- Rede de Acesso: fibra do splitter de segundo nível até o ONT (assinante).
Em 2013, para implantar uma rede FTTx, era necessário realizar fusões de fibra óptica em cada uma dessas segmentações, dependendo da quantidade de fibras dos cabos, splitters e derivações. Esse processo necessita de um equipamento chamado máquina de fusão, cujo custo, mesmo para as máquinas de menor qualidade, variava na faixa de R$ 20.000,00 a R$ 30.000,00. Por que isso é importante?
Bom, gostaria de exemplificar a quantidade de fusões que uma rede possui. Vamos considerar um projeto fictício que atenderá às seguintes premissas:
- Capacidade para até 2.304 assinantes;
- Razão de divisão da porta PON de 1x64;
- Splitter de primeiro nível 1x8;
- Splitter de segundo nível 1x8.
Se temos até 2.304 assinantes projetados e uma razão de divisão de 1x64 na porta PON, então:
- 2.304 / 64 = 36
- Portanto, teremos 36 portas PON e 36 fibras saindo da central.
Cada fibra que sai da central terá um splitter de primeiro nível em algum ponto da rede externa, resultando em 36 splitters 1x8.
Quantificando o números de fusões da rede primária, temos pelo menos:
- 36 fusões nas fibras que se conectam na OLT para sair da central;
- 36 fusões para fazer emenda na entrada de cada splitter de primeiro nível;
- 8 fusões na saída de cada splitter de primeiro nível, totalizando 288 fusões.
Portanto, um total de 360 fusões na rede primária.
Para a rede secundária, as fusões da saída dos splitters de primeiro nível já foram contabilizadas. Assim, temos um total de 288 fusões na entrada dos splitters de segundo nível.
Já para a rede de acesso, temos 288 splitters de segundo nível do tipo 1x8, o que significa 8 saídas para fusão dos cabos que atenderão cada um dos assinantes. No cálculo da rede de acesso, consideramos 288 x 8 saídas x 2, onde o fator 2 é porque temos a fusão do lado do assinante onde terá o ONT. Isso nos dá um total de 4.608 fusões na rede de acesso.
Em resumo, o mínimo de fusões que teríamos para as premissas adotadas seria:
- Rede primária: 360 fusões de fibra óptica - 6,85%
- Rede secundária: 288 fusões de fibra óptica - 5,48%
- Rede de Acesso: 4.608 fusões de fibra óptica - 87,67%
Por que realizamos todos esses cálculos? Para deixar claro que em uma rede convencional de 10 anos atrás, temos um volume considerável de fusões na etapa de ativação do assinante. Isso quer dizer que para o estágio de construção de rede (rede primária e secundária), que representa 12,33% das fusões, é possível orquestrar o trabalho e organizar as máquinas de fusões para um processo adequado, de modo que a quantidade de máquinas de fusão possa ser otimizada. E o que fazer com as 4.608 fusões restantes que dependem do momento em que o potencial assinante solicita a ativação? E se precisar escalar o processo de adesão, aumentar as equipes de ativação, aumentar as equipes de vendas? É importante compreender que todo o processo depende de ter uma máquina de fusão disponível para cada equipe ou técnico de ativação.
Considerando a etapa de ativação dos assinantes, os Conectores de Campo foram introduzidos como uma tecnologia revolucionária já em 2013. Atualmente, sua eficácia é inquestionável. Ao abordarmos a operação de ativação do assinante com Conectores de Campo, observamos:
- Ferramentas de montagem de baixo custo;
- Menor necessidade de técnicos especializados;
- Suscetibilidade a erros de montagem;
- Introdução de uma maior atenuação do sinal óptico.
Para simplificar a compreensão da mudança tecnológica ocorrida na rede de acesso, me concentrei na transição da fusão para a conectorização no momento da ativação do assinante, apenas introduzindo os Conectores de Campo. No entanto, outros custos associados poderiam ser mencionados, como os modelos de cabo, splitters e caixas que acomodam o conjunto final da rede secundária. O ponto crucial aqui é que a decisão de optar entre Conectores de Campo e fusão novamente envolveu a análise de CAPEX e OPEX, comparando as tecnologias, e no final, a conectorização foi adotada pela maioria dos provedores para simplificar e agilizar as ativações.
O que são as Redes Neutras? São redes de empresas detentoras da infraestrutura FTTx externa, abrangendo pelo menos da OLT até a rede secundária, que se propõem a disponibilizar sua infraestrutura para conexão de assinantes de terceiros, ou tenants. Nesse caso, os clientes da empresa proprietária da infraestrutura são outras operadoras ou ISPs. Como operadora ou ISP, por que optar por conectar seus clientes à infraestrutura de terceiros?
Sim, mais uma vez, CAPEX, OPEX e estratégia. As Redes Neutras permitem que outras empresas estabeleçam sua presença em locais onde não têm infraestrutura própria, possibilitando a avaliação do mercado e a expansão física da empresa sem a necessidade de um investimento significativo de capital, ou, no mínimo, reduzindo os riscos associados.
Nos últimos 5 anos, fundos de investimento especializados em telecomunicações, bem como ISPs consolidados em suas respectivas regiões, iniciaram diversos processos de fusões e aquisições. Atualmente, estamos diante de uma situação em que mesmo que uma operação apresente um custo operacional mais elevado, mas possua uma quantidade significativa de assinantes e outros fatores burocráticos favoráveis, esse ISP pode atrair a atenção dos grandes players para negociação.
A decisão de fusão e aquisição certamente tem um peso significativo para a parte técnica envolvida. No entanto, acima disso, há uma camada estratégica que abrange o negócio como um todo, indo além do escopo desta discussão. Essa observação serve apenas para ilustrar o ponto de que cada decisão de engenharia é, em última instância, uma decisão de compra.
Ao longo deste artigo, exploramos a trajetória da "Internet Fibra Óptica" no contexto das redes de telecomunicações, desde sua ascensão até se tornar praticamente uma commodity no mercado brasileiro. Ficou claro que as decisões técnicas são moldadas primariamente por considerações financeiras, destacando a importância de compreender não apenas as especificações técnicas dos produtos e soluções, mas também as informações financeiras que realmente influenciam as decisões.
A transição das redes tradicionais para tecnologias como FTTx e a adoção de práticas como o uso de Conectores de Campo refletem essa mudança de paradigma, onde a eficiência operacional e a redução de custos desempenham um papel fundamental.
Além disso, abordamos o surgimento das Redes Neutras e o aumento das fusões e aquisições no setor, destacando como essas movimentações são impulsionadas não apenas por considerações técnicas, mas também por estratégias de negócios e oportunidades de mercado.
Em última análise, fica evidente que cada decisão de engenharia é, em essência, uma decisão de compra. É crucial que os profissionais compreendam não apenas os aspectos técnicos, mas também os fatores financeiros e estratégicos que influenciam essas decisões para garantir o sucesso e a sustentabilidade das operações no mercado altamente competitivo das telecomunicações.